terça-feira, 2 de março de 2010

Blitz - As Aventuras da Blitz 1982

A capa exageradamente colorida e o encarte cheio de desenhos remetendo às histórias em quadrinhos já denunciavam que havia algo novo no ar. Em 1982, o Brasil vivia o seu período de reabertura política, e os jovens, finalmente, podiam mostrar trabalhos originais de forma (um pouquinho) mais livre. A Blitz - nome inspirado nas duras que seus integrantes levavam da polícia e em homenagem à banda inglesa The Police - não era uma banda de rock comum. O cantor, compositor e ator Evandro Mesquita havia tido uma experiência no conjunto de teatro Asdrúbal Trouxe o Trombone e trouxe toda essa influência para a banda, que fazia de seus espetáculos verdadeiras performances teatrais.

Os outros integrantes do grupo musical eram Ricardo Barreto (guitarra), Antonio Pedro (baixo), Willian Forghieri (teclados), Márcia Bulcão (vocais), Fernanda Abreu (vocais) e Lobão (bateria), logo substituído por Juba. A banda carioca inaugurou o Circo Voador, no verão de 1982, no Arpoador e também foi uma dos primeiros grupos daquela geração a tocar na Rádio Fluminense FM.

De qualquer forma, a novidade não estava só na capa do disco lançado em setembro de 1982, e que vendeu, em poucas semanas, mais de cem mil cópias. A primeira faixa do lado A ("Blitz Cabeluda"), cantada por Evandro e por Márcia Bulcão e Fernanda Abreu, faz, de maneira inusitada, uma apresentação do disco e da banda ("Espero que vocês... / Espero que vocês gostem do disco / Assistem o show / Vejam o filme / E leiam o livro"). Bem espirituosos aqueles rapazes, não? E isso era apenas o começo. Já "Vai, Vai Love", já mostra a principal característica da banda carioca: as historinhas cantadas através das letras, feitas, em sua maioria em forma de poesia de jogral, como se estivéssemos ouvindo uma mini-peça de teatro, com vários diálogos travados entre Evandro e as backing vocals.

O som característico da Blitz foi influenciado pela new wave, calcado em guitarras e teclados (muito parecido com o estilo da Gang 90, de Júlio Barroso), e em "Vítima do Amor" e "O Beijo da Mulher Aranha", essa influência fica bem visível.

As letras hilárias da Blitz eram outro diferencial. "O Romance da Universitária Otária" conta a história de amor do Abreu e da Aparecida, a tal universitária ("Essa é a história / De uma universitária otária / Que não sabia se fazia / Oceanografia ou veterinária / Arquitetura àquela altura era loucura / Mas em compensação, comunicação era uma opção / (...) / Era boa em línguas, mas não sabia beijar". Além de fazer referência ao Rio de Janeiro (Fla x Flu, Bangu, Ipanema), "Volta ao Mundo" é de uma espirituosidade fantástica: "Mas um dia ainda me mudo / Prum país oriental / É um povo amarelinho, só come com dois pauzinhos / Tem os ?óios? puxadinhos, mas são valentes pra cachorro". E por aí vai...

A Blitz ainda aproveita a faixa de abertura do lado B, "Eu Só Ando a Mil", para fazer uma nova auto-apresentação: "Vocês ouvirão um som que abalará toda uma geração / Um som que marcará toda uma época". Um pouco convencida, diga-se de passagem. Mas o escracho, uma das marcas registradas da Blitz, tinha que ser levado em consideração, também. Logo após, é a vez da faixa "Mais Uma de Amor (Geme Geme)" que estourou e é considerado um dos grandes hits do conjunto. A letra conta "mais uma das manjadas histórias de amor" e a música está mais puxada para o reggae.

"Você Não Soube me Amar", cujo compacto foi lançado antes do LP, e vendeu absurdamente, catapultou a Blitz ao posto de primeiro grande representante do Rock Brasil. A canção mais parece um esquete de teatro. A divertida letra ("Você convida ela pra sentar / Muito obrigada! / Garçom, uma cerveja? / Só tem chope. / Desce dois, desce mais. / Amor, pede uma porção de batata frita? / Ok. Você venceu. Batata-frita.") é mais uma grande influência do Asdrúbal e cativou as crianças da época.

Ainda sob um certo controle da censura, as duas últimas faixas do LP foram censuradas. "Ela Quer Morar Comigo na Lua" e "Cruel, Cruel, Esquizofrenético Blues" continham palavrões em suas letras, coisa que desagradou aos censores. Como forma de protesto, a banda, ao invés de simplesmente retirar as faixas do disco, mandou prensá-lo com as duas faixas riscadas a prego, como forma de mostrar a violência por ela sofrida.

Após "As Aventuras da Blitz", a banda ainda lançou, em 1983, "Radioatividade" (com sucessos como "Betty Frígida", "Weekend" e "A Dois Passos do Paraíso"), com um grande show na Praça da Apoteose, no Rio de Janeiro, e o fraco "Blitz 3", em dezembro de 1984. O grupo ainda editou um álbum de figurinhas e fez dois shows apoteóticos no primeiro Rock in Rio (1985), além de uma pequena turnê por Moscou.

Pena que essa alegre história típica de um verão carioca terminou tão cedo...


Integrantes:


Evandro Mesquita (voz, gaita, guitarra)
Billy Forghieri (teclados)
Márcia Bulcão (voz)
Fernanda Abreu (voz)
Ricardo Barreto (guitarra)
Antonio Pedro (baixo)
Lobão (bateria)


Faixas

1. Blitz cabeluda
2. Vai, vai, love
3. De manhã
4. Vítima do Amor
5. O romance da universitária otária
6. O beijo da mulher aranha
7. Totalmente em prantos
8. Eu só ando a mil
9. Mais uma de amor (Geme geme)
10. Volta ao mundo
11. Você não soube me amar
12. Ela quer morar comigo na lua
13. Cruel cruel esquizofrenético blues


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